AVALIAÇÃO MÉDICA (PARTE 1)

A necessidade e o valor de uma avaliação médica obrigatória bem como suas conclusões dividem opiniões no mergulho recreativo. No mergulho profissional, ela é obrigatória e aquele que é avaliado recebe respostas do tipo pode ou não mergulhar. As exigências relacionadas ao momento, tipo de trabalho e à capacidade física no mergulho profissional não permitem que mergulhadores com certas doenças exerçam a atividade.

No mergulho recreativo, o próprio nome da atividade define o grau de exposição que o mergulhador poderá ter. No entanto, podemos perceber que prevalece o sentimento de fascínio pelo mergulho, de um gosto intenso pela atividade em detrimento de uma avaliação crítica, honesta e sincera dos riscos a que está exposto em função das suas reais condições de motivação, de preparo físico e de estado de saúde. Se quiser, o mergulhador recreativo irá acabar mergulhando de qualquer maneira. Muitas questões que envolvem a necessidade de uma avaliação médica acabam requerendo posicionamentos da comunidade de mergulhadores, da sociedade médica e da indústria envolvida no mergulho recreativo como um todo.

A análise dos acidentes fatais relacionados ao mergulho autônomo recreativo revela que, em 25% dos casos, havia uma condição clínica pré-existente relacionada com a fatalidade que, se avaliada previamente, evidenciaria uma inaptidão ao mergulho pelo praticante. Além disso, há registros de que, em 9% dos casos, a vítima havia sido informada por um especialista em medicina do mergulho ou um instrutor de que ela não apresentava condições clínicas para mergulhar.

Em média, os mergulhadores constituem um grupo saudável. A análise da população de mergulhadores revela que 5,8% têm hipertensão arterial 1,2% tem asma e 1,1% tem diabete. Porém, podemos observar que esses percentuais são bem menores que os observados na população em geral, que são em torno de 26% para hipertensão, 5% para asma e 5% para o diabete, sugerindo, que deve haver um fator cultural relacionado à boa saúde e que seleciona esses indivíduos para o mergulho.

Em relação aos acidentes de mergulho, ficam bem evidentes dois picos de maior incidência de fatalidades. O primeiro pico ocorre em torno dos 28 anos quando supostamente o mergulhador teria melhores condições de saúde. Acredita-se que, os fatores comportamentais superam as causas relacionadas com seu estado de saúde como causadores de acidentes. No entanto, a exposição ao mergulho pode ser o fator desencadeante para o surgimento de doenças, que até então não haviam se manifestado na vida normal do indivíduo.

O segundo pico, em torno dos 48 anos, se relaciona mais diretamente com o estado de saúde prévio do mergulhador e tem como fator principal as doenças cardiovasculares e seus tratamentos. Nessa média de idade, doenças ainda não diagnosticadas, mas já instaladas, são os fatores causais mais importantes de acidentes fatais excluindo-se o afogamento.

Há que se ressaltar que existe diferença entre ter preparo físico e possuir condições de saúde para mergulhar. Preparo físico é necessário para a prática de muitos esportes e muitos esportistas podem praticar suas atividades mesmo com alguns problemas de saúde. Isso vale para atividades ao nível do mar e com a possibilidade de parar e descansar a qualquer momento.

No mergulho, é necessário preparo físico, psicológico e condições de saúde compatíveis. Muitos mergulhadores que morreram por problemas médicos, tinham preparo físico adequado, mas apresentavam condições clínicas que incapacitavam a prática do mergulho autônomo recreativo.

Fatores relacionados ao estado de saúde do mergulhador que contribuem para a ocorrência de fatalidades

Durante o mergulho, as principais causas médicas relacionadas a acidentes fatais, excetuando-se o afogamento, são a ocorrência de barotrauma pulmonar e de complicações agudas de doenças cardíacas. Quando eles ocorrem, podem estar associados a doenças preestabelecidas. Outras doenças também podem estar relacionadas a outros fatores de risco associados diretamente a acidentes.

Crédito:
AVALIAÇÃO MÉDICA NO
MERGULHO AUTÔNOMO RECREATIVO
Augusto Marques Ramos


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